segunda-feira, 2 de maio de 2011

Perfil de uma Liderança Negra em Caém


Laurinda Virgilina dos Santos

Laurinda Virgilina dos Santos, popularmente conhecida como Laurinda, tem 63 anos de idade, sendo natural da Fazenda Gravatá, município de Caém- Bahia, tendo como pais- José Francisco dos Santos e Anita Virgilina dos Santos; a mãe é natural da mesma região que já citei e o pai de Filadélfia, cidade próxima a Senhor do Bonfim. O pai da entrevista teve três famílias incluindo a mãe dela com a qual teve quatro (04) filhos, sendo que ela foi criada por uma das madrastras já que sua mãe morreu bem jovem sendo ela ainda uma criança ainda de colo; os outros irmãos filhos de outras mães totalizam segundo a mesma uns quinze (15) irmãos. A senhora Laurinda é casada e teve sete (07) filhos, dos quais, sobreviveram somente dois: Edvaldo V. dos Santos que ainda mora com ela e seu esposo e Noelson V. dos Santos que mora na capital do estado, Salvador há uns 15 anos. A entrevistada é devota de Santo Antonio para o qual construiu uma capela com ajuda de visinhos e amigos, sendo a mesma construída próximo de sua casa; católica, sempre gostou e esteve à frente do reisado de sua localidade por acreditar que onde se canta reis não se passa por longos períodos de estiagem, fome, sendo abençoados os cantadores com paz e saúde. Apesar de não praticar nenhuma religião de matriz africana, afirma não ter nada contra, desde que faça o bem às pessoas como rezar, ensinar um chá etc, ela diz ter um irmão praticante da mesma religião.
            A entrevistada estudou somente até a 1ª série do ensino fundamental, segundo ela, por que o pai não permitia que fosse a escola para não aprender a fazer carta para os namorados. Além do trabalho na lavoura, que sempre praticou como meio de subsistência a principal atividade desenvolvida por ela é a arte de fazer cestos entre outros objetos feitos com o cipó e taboca como bolsas, colares, argolas etc.
            Enquanto liderança na sua comunidade, o primeiro trabalho foi à realização do terno de Reis que a mesma esteve à frente durante mais de vinte anos (20), só abandonado há uns cinco anos atrás, por conta de usar o marca-passo, já que a mesma tem problemas cardíacos e por isso não pode fazer grandes esforços para cantar. Nessa atividade ela sempre esteve à frente, desde a confecção das vestimentas, até a organização dos ensaios, datas e locais de apresentações. Na realização dessa tarefa sempre contou com o apoio da igreja na pessoa do Padre José e principalmente da comunidade que sempre acompanhou suas apresentações nunca deixando a mesma sozinha. A outra atividade de liderança desempenhada pela entrevistada e que tem um grande reconhecimento do povoado onde vive é a organização das cesteiras de sua comunidade em uma associação, a mesma conta que desde menina aprendeu com a mãe a arte de fazer cestas usando o cipó, quando jovem, saia de sua comunidade para fazer cestas com amigas em outras localidades vizinhas e na cidade de Caem a qual sua comunidade pertence, com o dinheiro que ganhava com sua arte comprava objetos pessoais. A valorização da produção por parte da comunidade era muito pequena e ela saia vendendo pelas feiras da região seus objetos que naquela época era principalmente o cesto. Como apoio do SEBRAE participou de cursos de capacitação e associacionismo com outras mulheres de sua região. A associação foi fundada, por ela e vizinhas, porém, segundo a mesma está quase acabando, ela afirma está cansada e não vê nas colegas mais jovens o interesse em manter a associação de pé, segundo ela, o individualismo tem feito com que as atividades da associação sejam cada vez menores. Nos primeiros anos segundo ela, motivadas pelos cursos promovidos pelo SEBRAE o interesse das mulheres cesteiras era maior e a comunidade apoiava comprando os objetos fabricados, a Secretária de Educação Municipal realizou encomendas de objetos, no entanto a remuneração era pequena quando vão dividir os lucros da associação, o que ela acredita ser o principal fator de desmotivação das companheiras que tem a arte como meio de sobrevivência. A entrevistada afirma que vê nos objetos que hoje elas são capazes de fabricar a amostra da capacidade que possuem de criar e fazer coisas tão belas, com o cipó e a taboca, já que antes da associação elas só faziam cestos e hoje elas são capazes de fazer várias coisas, tipo bolsas de vários modelos, acessórios, baús. Em relação ao futuro afirma que seu desejo é o de vê a associação que ela tanto lutou para que existisse continuar e crescer, como ela tem visto outras associações formadas no município, porém não tem grandes expectativas.